terça-feira, 30 de novembro de 2010

TEMPO DE CONSTRUIR




O progresso deve acompanhar a modernidade, contudo sem desrespeitar o passado e as tradições. Tudo deve ser feito no sentido de se preservar as marcas históricas, pois são estas que funcionam como o documento de identidade de uma cultura, são os registros que comprovam nossa cidadania, onde ficam os sinais de nossas lutas, nossas conquistas e até mesmo de nossas experiências, tanto as positivas como as desastrosas e que redundaram em fracassos.

Em nossa cidade, infelizmente, por má-fé, por omissão e por ignorância, em alguns casos, em nome do progresso muita riqueza foi surrupiada, dilapidada, destruída, ou desperdiçada.

Muitos dos nossos monumentos foram demolidos para dar lugar a obras de mau gosto e a espaços vazios, como vazios certamente que eram os corações e as mentes de quem as patrocinou.

Citamos, por exemplo, a antiga igreja matriz de São Pedro, cuja absurda demolição ocorreu para que o seu madeiramento fosse empregado na construção de uma ponte; algum tempo depois foi a vez da Cadeia Pública, para dar lugar à Praça da Prefeitura; logo foi o Solar dos Reis ceder seu espaço ao Grupo Escolar Coronel José Bento; o mercado mourisco para no seu terreno se construir o horrendo prédio do fórum; o bonito teatro municipal para dar lugar à espelunca da Câmara e do CEC, e, finalmente, a bonita casa paroquial, deixada pelo Cônego Barreiros, para dar lugar ao Banco do Brasil e assim por diante.

Tínhamos no conjunto de nossas preciosidades urbanas e arquitetônicas uma ponte pênsil sobre o rio Fanado; um obelisco em homenagem aos pracinhas em frente da igreja do Rosário, marcos de latitudes e longitudes em vários pontos do município e um interessante galo de ferro sobre o imenso cruzeiro da Gruta; há um relógio na torre da igreja que há mais de 40 anos que não funciona; dos dois campinhos de pelada que existiam um deles foi ocupado pela Escola Normal e o outro invadido pela sementeira do IEF.

E os arquivos públicos, da câmara e do fórum?

E as peças históricas e valiosas do acervo da antiga Igreja Matriz de São Pedro Apóstolo, para onde foram?

Não negamos que as obras, algumas daquelas alegadas como benfeitorias modernas, fossem necessárias e, quanto a isto, nem se discute. Mas o fato é que não houve qualquer critério quanto à escolha do local das novas edificações, pois se constata a realidade de que, se cada uma delas tivesse sido erguida em outro lugar, preservando-se os antigos monumentos com suas finalidades e como bens de uso da população, a cidade poderia ter crescido de forma mais ordenada e, também, teria ficado muito mais bonita e aprazível.

Infelizmente o que foi feito está feito (ou seria melhor dizer o que foi “desfeito”) e o que nos resta hoje – infelizmente - seria chorarmos sobre o leite derramado, que nada vai resolver, podendo, porém, evitarmos que o poder público continue agindo daquela danosa forma e não permitindo mais que se repitam os erros e que possamos cuidar, com mais zelo, do pouco que ainda nos resta, seja dos bens públicos ou dos particulares.

Vamos ficar atentos e contra a ação dos iconoclastas, os "olavos", os "salomões", os "cupins roxos", os "garimpeiros do peito de Santa Luzia", os "morcegos sem asas" e tantos outros predadores, bem conhecidos, que ainda infestam o sobradão e nossas antigas igrejas.

Na foto, tirada no ano de 1945, vemos a construção do "Paço Municipal" e ao fundo, parte da belíssima capela de Nosso Senhor do Bonfim que foi demolida com o único objetivo de ampliar e beneficiar o terreno em que se localiza a casa de um ex-prefeito.

Continuemos atentos...





A FANTÁSTICA FÁBRICA DAS MARMELADAS

 -Uma visão sócio-ambiental de como e de que maneira puderam transformar a delícia de um doce tradicional num veneno, e a vida pacífica e produtiva de uma gente feliz no mais amargo flagelo que injustamente aflige e castiga um povo inocente, simples e bom-

Muito embora a vocação econômica do município seja a de mineração geral (ouro e pedras preciosas), essa atividade de há muito deixou de ser explorada devido à falta de investimentos no setor, sendo a agricultura atualmente a principal fonte de subsistência da população minasnovense.

Mesmo assim a produção agrícola vê-se tolhida e prejudicada pela falta de apoio administrativo, de incentivos de crédito, de assistência técnica adequada e de políticas públicas em real sintonia com a realidade e com as peculiaridades da região, bem como à administração carece de uma visão sistêmica para desenvolver programas estruturantes e eficazes com foco na questão fundiária e na necessidade de implantação de ações compensatórias para minimizar o impacto gerado pelo fiasco chamado de "reflorestamento".

O aprofundamento da questão fundiária no município já não pode mais ser evitado e o tema não pode ser tratado com displicência como vem ocorrendo, pois o pequeno produtor está cada vez mais ficando confinado nas beiras das chapadas, sitiado no deserto verde formado pelos eucaliptos e ali relegado injustamente ao abandono, à carência de todo recurso e à falta de qualquer perspectiva de retomada das suas atividades dentro dos padrões culturais que foram agredidos a partir da chegada dos tratores e das correntes de arrasto pesadas que, em comboio agrediram sua cidadania, tiraram-lhe a dignidade e a cultura de seu povo, desestabilizando e massacrando com seu núcleo familiar.

Os grandes maciços das chapadas e dos cerrados foram ocupados indiscriminadamente pelas plantações de eucaliptos, para produção de carvão vegetal que é um dos componentes do aço produzido pela empresa multinacional ACESITA, conglomerado econômico que prefere a sua classificação como atividade rural e a denominação genérica de reflorestamento com a qual não se pode concordar de vez que a mesma se configura como atividade-meio no processo de se chegar à atividade-fim que é a siderurgia. E na obtenção do produto final que é a riqueza industrial configura-se o carvão vegetal tão importante e necessário como o minério de ferro, e daí a necessidade de também se reverem os critérios para que essa nossa região possa receber seus direitos participativos como os “royalties” em pé de igualdade com as cidades localizadas no Vale do Aço que são as únicas beneficiadas.

O que tem ocorrido a partir do inicio das atividades da empresa na região, foi um desflorestamento a favor de uma expansão industrial com a eliminação radical de uma grande floresta nativa e de toda sua biodiversidade que, somente a título de esclarecimento trata-se do conjunto vital onde o homem compõe a natureza como um elemento do reino animal em constante sintonia com o vegetal e o mineral, este universo que tinha todas as particularidades e características de uma floresta de transição da Mata Atlântica para o Cerrado, quando foi introduzida em seu lugar uma monocultura de grande ciclo produtivo, sabidamente agressiva ao solo e aos mananciais e que carece de pouca participação da mão-de-obra humana, limitando sobremaneira a possibilidade de geração de emprego e de renda, pelo menos da forma econômica e socialmente justa conforme o que foi prometido e empenhado como a contrapartida, jamais observada e respeitada, que seria o benefício da população local.

Antes, nesses imensos maciços e espigões era praticada uma pecuária rudimentar, mas já sedimentada e eficientemente adaptada ao meio e que consistia na criação de animais em regime de "larga" em que não havia a necessidade de maiores preocupações com o manejo da terra, pois esta era um bem comum ao qual não se agregavam benfeitorias fixas, ao tempo que também não havia qualquer tipo de agressão que pudesse colocar em risco seus valores naturais no conjunto dos interesses grupais.

Dessa forma de atividade agropecuária em que a terra não tinha valor como capital, pois representava apenas um ingrediente natural do trabalho, pois existia em abundância e disponibilidade assim como a água, o ar e a vegetação estes que são os elementos igualmente dados de graça pela natureza ao sertanejo aqui mais conhecido como campeiro, roceiro, catingueiro ou groteiro a quem preocupavam apenas as tarefas de apascentar seus animais que viviam soltos, pacificamente em comum com os rebanhos pertencentes às diversas famílias enquanto todos iam desenvolvendo paralelamente outras atividades artesanais, sociais e comunitárias que lhes rendiam e lhes permitiam uma vida digna, dentro de padrões específicos, bem definidos, os quais foram, de repente, arrebatados e violentamente impedidos de usufruir pela incúria e pela ganância do invasor escudado e tutelado oficialmente pelo poder econômico e governamental.

Eram essas terras quase que em sua totalidade pertencentes aos sucessores hereditários de antigas propriedades onde no passado não muito distante existiam extensas plantações de cana e de algodão além da exploração de minérios através de concessões que davam direito de posse aos permissionários nas respectivas áreas de abrangência dessa atividade.

Ora, daí se depreende que essas mesmas glebas eram propriedades de alguém e que, no mínimo, constituíam-se como direito de herdeiros que por força da lei teriam que ser chamados para integrarem-se à lide numa eventual ação de desapropriação judicial ou de anexação desses bens ao patrimônio público.

O que ocorreu, porém, ao arrepio da lei e em flagrante desrespeito ao direito de terceiros foi a equivocada classificação por parte da RURALMINAS e da composição mancomunada dos políticos locais com as autoridades judiciais, que via do esbulho, da invasão e da grilagem incentivada, passaram a sustentar a falsa condição de serem essas mesmas glebas áreas rurais, de terras devolutas, as  quais se permitiram que fossem arrecadadas como tal, para serem, ato contínuo, transferidas e entregues, de mãos-beijadas, para a ACESITA, através de um polêmico e estapafúrdio contrato de comodato cujo prazo de validade se renova e vai-se arrastando indefinidamente.

Com a ocupação dessas terras, através de processos fraudulentos de toda ordem, o espaço imenso dos campos de criar foi ocupado pela vegetação agressiva e exótica do eucalipto e os desamparados camponeses viram-se, do dia para a noite, privados daquela atividade milenar, quase que mecânica - rotineira e imperceptível - que representava a sua eterna fonte de subsistência: O amanho da terra e o pastoreio de criação de animais.

Cada ruralista de toda essa região (e no universo da população representava mais de 70%) por mais pobre e sem recursos que fosse, ele tinha sempre em volta de sua casinha um bom quintal com pomar, horta, galinheiro, chiqueiro, plantações periódicas de roças como as de milho, feijão, arroz de sequeiro, mandioca, algodão herbáceo, mamona, urucum e amendoim.

Com o patrocínio de políticos renomados da região, inclusive com o beneplácito e o empenho de um senador e ministro filho da cidade de Minas Novas, implantou-se no Vale do Jequitinhonha, mais precisamente nos municípios de Minas Novas, Turmalina, Veredinha, Leme do Prado, Chapada do Norte e José Gonçalves de Minas, a “Reforma Agrária” ao contrário, ou seja, acabou-se com os minifúndios que beneficiavam dezenas de milhares de trabalhadores para implantar-se o latifúndio, o maior talvez em todo o território nacional.

Até a chegada do eucalipto a maior parte das famílias rurais contava com uma estrutura edificada com o sacrifício de várias gerações, de recursos não materiais, mas culturais, e de alguma organização primária através da qual mantinham expedientes próprios para o desenvolvimento produtivo de bens e para manter a fundação de lavouras perenes de café, de cana-de-açúcar, de banana, de laranja, de abacaxi e de marmelo, o que lhes permitiam uma indústria artesanal constante e regular de rapadura, açucar-mascavo, merendê, compotas e doces secos, além da marmelada, da geléia, do chouriço, do sabão, do queijo, da manteiga e do requeijão que abarrotavam as feiras de nossos mercados regionais.

Nas grotas, nas vazantes e nas terras mais baixas plantavam-se alho, cebola, repolho e outras espécies de cultivares como o algodão arbóreo com o qual se permitia o trabalho da tecelagem através da arte e da existência de vários teares que abasteciam a região com a baeta, com o tecido-cru e com as vistosas cobertas de pavios coloridos que encantavam os enxovais, além do cultivo do fumo em rama, na região do Setúbal, que movimentava intensamente o comércio do tabaco.

Todos esses agricultores, nos campos de criar, nos chapadões, nas veredas e nas caatingas tinham soltos seus animais de serviço, os bovinos de engorda e suas vacas pé-duro que lhes garantiam a tração, o transporte, o fornecimento de carne e de leite durante todo o ano.

Também havia a disponibilidade do mel silvestre e a possibilidade da caça e da pesca segundo o costume herdado dos antepassados índios e caboclos de uma época não muito distante, pois no próprio meio rural onde viviam ainda existiam vários remanescentes de tribos e de quilombolas.

A vida natural, os costumes milenares e suas sadias tradições permitiam uma simbiose completa do homem com a terra.

A cada estação do ano, eram comuns as safras espontâneas e fartas de maracujá, de murtas, de mangabas, de araçás, de cajuís, de gabirobas, de muricis, de ananás, de jatobás, de micuibas, de buritis, de macaúbas, de catolés e tantas outras espécies de frutas silvestres nativas, cocos oleosos, raízes, tubérculos, resinas, folhas comestíveis, ervas naturais, plantas medicinais e da maior utilidade e serventia no uso caseiro como as contas, as bagas, as cabaças, os caniços e as plumas, além do Pequizeiro, aquela que era a árvore sagrada do sertanejo. 

A precipitação pluviométrica era harmonizada e as águas eram abundantes e límpidas, sem a atual agressão do agrotóxico.

Os barreiros forneciam de graça o adobe, os tijolos e as telhas para a construção das casas.

Os capões de mato e as capoeiras eram livres para o fornecimento de varas para os galinheiros e chiqueiros, da lenha para o fogão da cozinha, o forno do terreiro, a fornalha do engenho e para o aquecimento da noite; das madeiras necessárias na construção de moradias; das tábuas para o fabrico de móveis, ferramentas e até mesmo do caixão para o defunto.

Hoje a vida do roceiro (ou seria a morte?) é movida pelo gás dos botijões, pelo leite da caixinha longa-vida, pela água da COPASA, pela luz da CEMIG, pelos 35% dos impostos sobre o feijão e a farinha, do aluguel escorchante, da passagem no transporte ruim e de todas as adversidades que existem dentro de um contexto injusto que lhe acenou, enganosamente, com a possibilidade de um salário-mínimo e tantas outras ilusões e fantasias que transformaram os groteiros em bóias-frias, os lavradores de suas próprias terras em trabalhadores rurais (TR), dos vaqueiros em mendigos, dos ruralistas em sem-terras, das mulheres e das crianças em escravos de carvoeiras, das inocentes mocinhas da roça em prostitutas e dos rapazes caipiras em pivetes, trombadinhas, aviões de boca de fumo, flanelinhas, camelôs e outras infelizes espécies que se multiplicam nos guetos e favelas.

O “reflorestamento” tirou o leite das crianças pobres, a carne do almoço domingueiro, o aboio alegre do vaqueiro, o calor da noite do roceiro, o fogo da cozinha cabocla, acabou com a doçura das frutas silvestres, espantou os animais, mandou para as favelas o futuro da cidade pequena e matou no coração a vida daquele cuja existência estava umbilicalmente ligada à natureza.

Onde jamais houve fome, mesmo com a insistente falácia criada pela propaganda do governo que se implantou na mídia com o nome de “Vale da Miséria”, na região de Minas Novas este flagelo social só passou a ser conhecido a partir da chegada da Acesita.

A doçura da marmelada se transformou numa mistura amarga e  venenosa que se espalhou por entre o fedorento eucalipto.

Antes a marmelada de Minas Novas era apenas a referência de uma compota caseira que ali se produzia em larga escala, muito apreciada em toda parte e que foi, com a deterioração dos costumes, modificada em sua fórmula com a introdução de outros ingredientes, além do açúcar mascavo e do marmelo, tais como a batata-doce, o chuchu, a fécula e até a abóbora que desvirtuaram e comprometeram aquela famosa iguaria tirando-lhe a pureza e o encantamento.

Depois foi a associação desses ardis às falcatruas que se praticavam nas repartições públicas, tanto na prefeitura como nos cartórios do fórum de Minas Novas, onde certidões, atestados, escrituras e todo tipo de documento, eram falsificados, adulterados ou fraudados para beneficiar algum protegido dos líderes políticos locais.

Hoje o gosto delicioso da marmelada é apenas uma saudade, pois não existem mais as encantadoras plantações do marmeleiro e até mesmo os canaviais se restringem à produção pequena e artesanal apenas de cachaça.

O fedor do eucalipto é o que predomina por entre a fuligem das chaminés e da sujeira das carvoarias – onde se pratica o trabalho escravo de mulheres e crianças, e por onde se esvaem a honra e a vida do antigo sertanejo.
           
E esse veneno cada vez mais mortal potencializa-se com a indiferença, a parceria e, em alguns casos, com a permissividade e a conivência das autoridades que deveriam defender os interesses coletivos, mas que preferem colocar-se do lado do capital especulativo e predatório.
           
O pequeno produtor rural tem que ser respeitado e ainda há o tempo de se reparar, pelo menos em parte, o imenso crime ambiental e até mesmo antropológico cometido contra esse povo humilde e simples.
           
É preciso enquadrar legalmente a Acesita (sucedida pela multinacional ACELLOR MITAL) e obrigá-la a prestar às suas vítimas a assistência de que elas têm todo o mais legítimo direito.
           
E hoje já não se pode mais tapar o sol com a peneira.

MINAS NOVAS, O BOM SUCESSO DO FANADO - BERÇO DO JEQUITINHONHA


Edifício "Sobradão do Fanado", construido na primeira década de 1.800 para sediar o Governo da Província do Jequitinhonha. É hoje considerado um símbolo da arquitetura colonial, o primeiro "arranha-céu" construido no Brasil, ainda preservado com os seus quatro andares sustentados por esteios de aroeira, amarrados com correias de couro-cru, vigas e barrotes de brauna lavrada, soalhos de bálsamo, além de quase uma centena de portas e janelas de sucupira e bancos de jacarandá.


Depois de inviabilizada a Província do Jequitinhonha, em virtude da "Abdicação da Coroa" pelo Imperador Pedro I, tendo os Regentes que o sucederam determinado o cancelamento desse projeto, bem como o da instalação da Diocese do Fanado, a cidade de Minas Novas, que era considerada uma das principais entre as de porte médio, em todo o Brasil, entrou em franco declínio. O Sobradão, desde aquela época, sucessivamente abrigou cartórios e gabinetes do Tribunal de Juri, sede de clube social, salas de aula da antiga Escola Normal e, mais recentemente, está indefinidamente preparado para ser a sede do Museu Regional do Artesanato e da Arte Sacra, conforme estudos e projetos elaborados pela historiadora e curadora de artes LÉLIA COELHO FROTA.



Ao homem civilizado é necessário o conhecimento de sua origem para saber bem administrar o presente e, com sabedoria e determinação, construir e garantir o seu futuro. Para tanto, é necessário que se registre com fidelidade a história dos povos, cujos dados servirão para, sendo comparados, balizar e orientar as atividades, perpetuar o conhecimento, garantir a cultura, o progresso e o desenvolvimento.

Agência do Banco do Brasil S.A. - Minas Novas (MG), que foi construida (1979)- preservando-se as características originais do sobrado colonial que foi demolido, e que era a antiga Casa Paroquial do Cônego Jose Barreiros da Cunha Jobarcum..

Solar de Dona Auta, hoje pertencente aos herdeiros do fazendeiro João de Castro e que no tempo da Vila do Fanado abrigava a "Casa dos Contos" e residência do Intendente João de Barros (construtor e proprietário do "Sobradão"). Posteriormente foi adquirida pelo Cônego José Pacífico Peregrino e Silva, para servir de "palácio episcopal" da Diocese de São Pedro do Fanado que se inviabilizou em virtude de divergências políticas que, inclusive, determinou a demolição criminosa da belíssima Igreja da Matriz (antes destinada a ser a Sé do Bispado) da qual, até bem pouco tempo havia vestígios no Largo da Caridade, local onde foi construida a atual Rodoviária de Minas Novas. 


Antiga POUSADA DO LARGO DAS CAVALHADAS, propriedade que foi confiscada do inconfidente Tenente-Coronel DOMINGOS MOTA DE ABREU VIEIRA, compadre e amigo de TIRADENTES e que a este ali o hospedara por diversas vezes em suas passagens pela Vila do Fanado quando ainda o "proto-martir da Liberdade" era um aventureiro misto de tropeiro, ourives, mascate, sangrador e dentista.

O Juiz Municipal Francisco Duarte Coelho Badaró, depois de nomeado para a Comarca no final do século 19, requisitou este imóvel para alí fixar redidência - ao se casar com a Dona Sinhazinha, filha do Coronel ZEBENTÃO, o famoso "Ferrabrás" - e nessa casa nasceram-lhes os filhos Francisco Badaró Junior, Benedito Nogueira Badaró, Laura Badaró, José de Nápolis Badaró e Corina Nogueira Badaró, estando o imóvel, atualmente, em poder dos diversos herdeiros do antigo "Morubixaba do Fanado", entre eles o recém falecido Murilo Badaró (ex-senador biônico) que ali instalou e fez funcionar por muitos anos a politiqueira e polêmica "Rádio Bom Sucesso".

Tramita pela Câmara Municipal um projeto no sentido de seu resgate para ser destinado ao Museu do Fanado que contemplará, inclusive, biblioteca, teatro, oficinas de arte e ofícios e o Instituto de Pesquisas Históricas.

Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso da Divina Conceição que, por ter pertencido à Ordem Terceira de São Francisco é hoje dedicada a São Francisco Xavier, alí entronizado em belíssimo nicho, dentre outras peças remanescentes da antiga Matriz de São Pedro (demolida no início do século 20). Consta da tradição oral que esse templo era ornado com duas altíssimas torres (que aparecem em fotos antigas) as quais foram arrancadas violentamente, durante uma tempestade de ventos e raios, quando em seus porões estava sendo depositado o caixão fúnebre em que fora colocado um boneco de piteira no lugar do falecido Coronel Zebentão, cujos despojos teria sido resgatado, durante saqule lúgubre evento, por uma horda malígna. Como esse morubixaba era ateu e grande perseguidor dos índios e dos padres, era ele considerado excomungado - também em razão de seu empenho pela demolição da Igreja de São Pedro do Fanado - o que teria ensejado o merecido castigo, brilhantemente descrito nas memórias do escritor "João Grilo da Beira do Fanado".

 Altar-mor da Igreja de São Francisco Xavier, hoje sob a guarda da IRMANDADE DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO DOS HOMENS BRANCOS DE MINAS NOVAS, responsável pelas celebrações da Semana Santa, da Festa do Divino e das procissões de São Pedro, Corpus Cristi e Sagrados Corações.

 Altar do Sagrado Coração de Jesus
 Altar de Nossa Senhora da Divina Conceição de Maria -
Talhado a canivete em uma peça de jacarandá,
natural e sem douramento



PROCISSÃO DOS PASSOS DE NOSSO SENHOR, na hora do ENCONTRO com a imagem de sua mãe, NOSSA SENHORA DAS DORES, na celebração da Semana Santa, que em Minas Novas conserva toda a beleza da tradição deixada pelos padres pioneiros comandados pelo Cônego Pacífico Peregrino e Silva que legou à paróquia sua herança trazida da Espanha. 

Igreja de Nossa Senhora do Amparo, da Irmandade dos Homens Pardos da Vila do Fanado de Minas Novas em cujo interior existe um altar que uma joia barroca em pleno sertão jequitinhonhês, conforme vê adiante:

 Altar com colunas e retábulos dourados e conjunto de imagens da devoção atribuida à tradição dos colonizadores de origem judaica, tais como Santa Luzia, Santa Bárbara, São Miguel Arcanjo, São Bento, São Sebastião e Santa Edwirgens.

Os homens pardos, segundo reza a tradição, eram os filhos bastardos daqueles ricos comerciantes e arrematadores, não podendo frequentar as outras duas congregações religiosas que havia na Vila do Fanado, como as Irmandades do Rosário e do Santíssimo Sacramento que tinham seus templos próprios.


Igreja de Nossa Senhora do Rosário, da Imperial Irmandade dos Homens Pretos de Minas Novas - construída pelos escravos alforreados no início do século 19 e na qual, ainda hoje, depois de 200 anos se celebra, ininterruptamente a FESTA DE JUNHO com seus "reinados", "congados", "ternos de reis", "candongas", "candombi", "lavações", "mesas", "tamborzeiros" e "mangangás". 

Garbosa e Valente Guarda Imperial da Irmandade dos Homens Pretos, garantido a história,  o patrimônio e a grandiosidade dessa bi-centenária agremiação - ícone das melhores tradições fanadeiras.
Lindíssimo conjunto barroco de talhas, no altar-mor da Igreja do Rosário, que infelizmente encontra-se desfigurado pela aplicação irresponsável de camadas de tinta a óleo sobre suas pinturas originais.

Medalhão artístico, do teto da nave principal, atualmente danificado por infiltrações e ataques de cupins, carecendo pois de urgentes interferências no sentido de sua restauração.

Vista norturna da Igreja do Rosário, em um dia de missa em seu interior.

 

Igreja de São Gonçado do Amarante, padroeiro da Bandeira de Sebastião Leme do Prado, primeira edificação do antigo Arraial das Lavras Novas do Fanado e na qual, além de característico conjunto sacro daquela época, existe um acervo de "ex-votos" e documentos que remontam ao período áureo da mineração.







No meio do casario colonial e das belíssimas igrejas tricentenárias pontuam também edificações modernas como o GRANDE HOTEL (amplo, com piscinas e apartamentos luxuosos) e casas residenciais em conflito com o modelo histórico, cujos proprietários não se convenceram da necessidade de preservar, conservar e enfatizar a linha arquitetônica original, inclusive como maneira inteligente de garantir o viés econômico da atividade turística que, de qualquer forma, é a principal e mais viável vocação do lugar, tendo-se em vista o seu patrimônio antigo, a beleza de seus sítios naturais (como a Barragem das Almas), as tradições folclóricas, festeiras e culinárias, além da HISTÓRIA e da rica produção artesanal que garante o sustento de centena de artistas locais.

Um povo sem memória seria assim como um corpo acéfalo, alheio e desorientado, sem rumo e sem perspectivas, pois não seria desnecessário lembrar-se de que, quanto maior for o conhecimento sobre o passado, melhor será o que poderemos aproveitar daquilo que tenha resultado de positivo para que possamos prevenir contra as ameaças, as dificuldades, as maldades, as armadilhas, evitarem-se os fracassos, precaver-se frente aos desafios que se renovam, evitando-se a repetição dos erros, possibilitando-nos redimensionar e potencializar nossos planos com eficiência e segurança, colocando a ação humana como parceira, e não como simples testemunha da construção universal.

Igrejinha de São José de Botas, curiosa construção colonial em formato octogonal, na mesma linha da Capela dos Templários de Nice, que existia na França, que foi edificada para ser a capela particular do Cônego Pacífico Peregrino. Além das belíssimas imagens vindas de Portugal, tem um sino fundido em rica liga metálica com inscrições com datas bem anteriores à da fundação da cidade. É bastante curioso o conjunto pictórico, representando passagens bíblicas,  pinturas ainda bem conservadas, cuja autoria já foi atribuida ao mestre Ataíde, fato que não mereceu - ainda - pesquisas mais detalhadas.




Fuga da Sagrada Família para o Egito

Encontro da Virgem Maria com sua prima Santa Isabel


Sobrado de Dário Magalhães, atualmente em ruinas depois que foi desapropriado pelo ex-prefeito Murilo Badaró, onde fucionava antigamente a administração do COLÉGIO NORMAL DE MINAS NOVAS. Existe um projeto da Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais de resgatá-lo e reformá-lo com as adaptações necessárias com o objetivo de alí funcionar o MUSEU DE PERCURSOS DA ESTRADA REAL.

Nesta foto, no prolongamento da Rua São José, vê-se a
POUSADA TUTÚ, um sobrado que, de forma cuidadosa e exemplar, observando-se a linha arquitetônica ideal daquele logradouro, foi construido pela sua proprietária (uma ex-servente escolar que, demonstrando sua sensibilidade cívica, artística e até mesmo de oportunidade empresarial) deveria ser seguida nessa louvável atitude, tanto pelos políticos e administradores públicos, mas também pelos demais comerciantes e empresários da cidade que tudo têm feito no sentido de descaracterizar o conjunto histórico da cidade.


A seguir apresento uma resenha de algumas das publicações mais importantes, de autoria de minasnovenses ilustres ou obras que contenham referências (de alguma natureza) sobre a nossa história, nossa economia e nossas potencialidades fanadeiras, das quais deveria haver vários exemplares nas bibliotecas do município de Minas Novas, com o objetivo de se oferecer melhor acesso aos estudantes e  pesquisadores em geral.

























Neste sentido, unicamente com o intuito de contribuir para o ensino da História aos alunos das escolas localizadas nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, foi que resolvi elaborar o presente estudo, sem qualquer intenção de eliminar ou substituir a necessidade do acesso às grandes obras - na sua essência, amplitude e beleza - concebidas que foram pelos ilustres autores que aqui serão citados, aos quais registrarei os respectivos créditos, pois muitos deles viveram alguns dos fatos e alguns outros tiveram o privilégio da informação na fonte, consultando diretamente os documentos e os registros originais, o que lhes confere, portanto, todo o mérito, como historiadores, que de fato o são, e a mim competindo tão-somente desfrutar do agradável e prazeroso trabalho da pesquisa e em dar-lhes a merecida e tão necessária divulgação.  


De qualquer forma, será sempre benéfico aos alunos, e ao público em geral, que as administrações públicas se convençam do dever de dotar as nossas bibliotecas municipais de um bom acervo, principalmente dos livros que retratam a realidade e a história local, como os mencionados e muitos outros, para a eles recorrerem-se com assiduidade, aqueles que querem e que precisam se informar sobre o seu próprio passado, pois, infelizmente, estão essas obras muito pouco valorizadas na composição dos planos didáticos, hoje elaborados pelos profissionais do ensino moderno, que se esforçam apenas pelo treinamento de candidatos ao vestibular, com dicas e macetes, sem se cuidarem acerca de um melhor aprofundamento sobre os conteúdos integrais e sobre o conhecimento geral daquela matéria, dispensando, equivocadamente, a essência do saber, a verdadeira cultura, deixando-se entusiasmar com o brilho das novas tecnologias, muitas delas que são massificantes e que condicionam o acadêmico, como se esse devesse permanecer, eternamente, como um autômato, um leitor funcional, obrigando-o a orbitar-se na sua inteira dependência, atendo-se a uma formatação (não formação) limitada e bem definida, dentro de uma faixa exclusiva que exige, tão-somente, um comportamento disciplinar, em detrimento da capacidade de raciocínio, de comparação, de dedução lógica e de correta expressão, tendo como técnica o círculo vicioso e repetitivo das cartilhas, que induz à “decoreba”, onde têm sido considerados, aqueles assuntos relacionados com o passado, como temas românticos e pouco relevantes e tendo-os de pouco merecimento, segundo a miopia desses tecnocratas, quando se sabe, cientificamente, que de uma melhor abordagem, em salas de aula, se assim entendessem os educadores, esta preocupação resultaria uma sólida e muito melhor formação cidadã, moral, ética, intelectual, cívica e cultural que - de nossa humilde, mas não utópica parte - tanto almejamos para os nossos jovens estudantes que merecem alcançar o sucesso em qualquer das carreiras que vierem a abraçar.



PRÉDIO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE MINAS NOVAS

Geraldo Magela Mota Coelho
Belo Horizonte (MG) , 29-06-2010
(Dia dedicado a São Pedro Apóstolo, padroeiro da Vila do Fanado)


1. A Vila do Bom Sucesso do Fanado

Segundo o escritor Joaquim Ribeiro Costa, em seu livro "Toponímia de Minas Gerais" (Com Estudos Históricos da Divisão Territorial Administrativa) - Imprensa Oficial do Estado - Belo Horizonte - 1970:

“MINAS NOVAS - Paróquia de Nossa Senhora do Bom Sucesso das Minas do Fanado, por alvará de 1728”. Segundo Diogo de Vasconcelos, o governo de Portugal, a 21-V-1729, mandou que se criasse a vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso das Minas Novas do Arassuaí, o que se deu a 2-X-1730; e que as mesmas Minas ficassem sujeitas ao governo da Capitania da Bahia. Criada a comarca de Jacobina, naquela Capitania, foi-lhe incorporado o termo de Minas Novas. Por carta de maio de 1747 foi a vila de Minas Novas reposta na comarca do Serro, menos quanto à jurisdição militar. Finalmente, a 13-V-1857, foi mandado incorporar-se Minas Novas integralmente à comarca de Serro e ao governo das Minas Gerais. Já havia, desde época anterior a 1745, a paróquia de Santa Cruz da Chapada (atual Chapada do Norte). Por lei numero 32 de 14-III-1836 é o distrito de Olhos d'Água incorporado ao município de Montes Claros. Por lei número 59 de  06-III-1857 foi desmembrado do município de Rio Pardo para o de Minas Novas o distrito de São Miguel, da 7a. Divisão (atual Jequitinhonha). Perde em 1839 a paróquia de Brejo das Almas (atual Francisco Sá), incorporada ao município de Montes Claros. Criados em 1840 a paróquia de São João Batista e o distrito de São Sebastião do Salto Grande e Nossa Senhora da Piedade (atual Turmalina). Adquire em 1850 o distrito de Santo Antônio do Itinga e as paróquias de Calhau (atual Araçuai) e Chapada (atual Chapada do Norte). Criados em 1857 o distrito de Senhor Bom Jesus da Barra do Pontal (atual Itira) e a paróquia de Filadélfia (atual Teófilo Otoni). Perde no mesmo ano o território que passou a constituir o município de Araçuai. Cria em 1858 as paróquias de Capelinha (ex Nossa Senhora das Graças da Capelinha) e Sucuriú (atual Francisco Badaró). Perde em 1862 a paróquia de Araçuaí (ex Calhau). Criados em 1877 os distritos de São José da Água Boa, Santa Clara (atual Nanuque), Santa Rita da Malacacheta, Veredinha e Urucu (atual município de Carlos Chagas). Restaura, no mesmo ano a paróquia de Água Limpa (atual Berilo), que havia sido criada anteriormente e suprimida em 1868. Perde em 1878 as paróquias de Teófilo Otoni, Santa Clara (Nanuque), Malacacheta e Urucu (Carlos Chagas). Elevado a paróquia em 1880 distrito de Santo Antônio de Setubinha; perde no mesmo ano a paróquia de Setubinha e o distrito de Água Boa. Readquire este último distrito em 1881, elevado a paróquia em 1882. Criado em 1882 o distrito de Caiçara, mediante transferência para ali da sede do distrito de Peixe Cru, que havia sido criado em 1880. Perde em 1911 os distritos de Jequitinhonha, Capelinha, Itira, Água Boa e Salto Grande (atual Salto da Divisa). Perde em 1948 os distritos de Caçaratiba, Turmalina e Veredinha. Criado em 1953 o distrito de Leme do Prado. Perde em 1962 os distritos de Berilo, Chapada do Norte e Francisco Badaró."

Portanto, existem divergências quanto à data real de fundação do município de Minas Novas, sendo oficial a de 02 de outubro de 1730, embora exista, também, referência de que foi datada de 21 de maio de 1729 a Ordem do Governo de Portugal para a emancipação, conforme informa o IGA (Instituto de Geociências Aplicadas)in "As Denominações Urbanas de Minas Gerais - Cidades e Vilas mineiras- com estudo toponímico e da categoria administrativa"   -   2a. edição revista e ampliada - abril/ 1997 - publicada pela ALEMG.

Já o ilustre historiador Padre Manoel Aires de Casal, em "Corografia Brazilica - Relação Histórico-Geográfica do Reino do Brazil", composta e dedicada a Sua Majestade Fidelíssima por hum presbítero secular do Gram Priorado do Crato" que foi impressa no Rio de Janeiro, em 1817, com Licença e Privilégio Real, na "Impressão Régia", registra que a Vila do Fanado foi criada no ano de 1715:

"A Vila de Bom Sucesso, vulgarmente mais conhecida pelo nome de Fanado, criada no ano de 1715 é medíocre, e bem situada num terreno levantado, e lavado de ares salutíferos entre as ribeiras, que lhe deram os nomes, e unindo-se entram no Rio Arassuaí, que passa 6 milhas arredado pelo norte, ornada com uma igreja matriz dedicada ao príncipe dos Apóstolos, as capelas do Senhor do Bonfim, de Nossa Senhora do Amparo dos pardos, de Nossa Senhora do Rosário dos pretos, de Santa Ana, de São José, de São Gonçalo, e uma ordem terceira de São Francisco. Tem Juiz de Fora, e Professor régio de Latim. Nenhuma casa é de pedra. Seus habitantes são mineiros, criadores de gado vacum, e lavradores de víveres, algodão e canas-de-açúcar; alguns procuram pedras preciosas: os negociantes são os mais abastados e independentes. Fica 63 léguas ao nordeste de Mariana, 60 ao mesmo rumo de Sabará, 36 ao nor-nordeste de Vila do Príncipe, 135 ao norte do Rio de Janeiro.

      No seu extenso termo há várias ermidas: a de Nossa Senhora da Piedade, a das Mercês, a da Penha, a de São João, a da Prata, a das Barreiras, cujo número deve multiplicar-se para leste e sul até o Rio Doce, logo que se abram e freqüentem as estradas projetadas para os melhores portos de Porto Seguro. A maior parte delas serão paróquias antes de muitos lustros. A fertilidade do território, e facilidade de transportar produções aos portos, devem atrair numerosos colonos a este distrito, sem dúvida o melhor da província depois de subjugados os aimorés.

      Três léguas, ao norte do Fanado está o Arraial e Freguesia de Santa Cruz da Chapada, junto do Rio Capivari: Seus habitantes, que apenas recolhem alguns víveres, ocupam-se em minerações.

      Quatro léguas ao nordeste do precedente, e 7 do Fanado, está o considerável Arraial e Paróquia de Água Suja, junto à confluência da ribeira do seu nome com o Arassuaí, ornado com uma igreja matriz dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Seus habitantes cultivam milho, legumes, algodão, tabaco, e tiram ouro. No seu distrito há as freguesias de São Domingos, e a de Nossa Senhora da Conceição, junto ao Rio Sucuriu, cujos paroquianos cultivam as mesmas produções, e ajuntam ouro e pedraria.

      Perto de 30 léguas ao norte do Fanado está o considerável Arraial e Freguesia do Rio Pardo, sobre a confluência do rio que lhe dá o nome, com o Preto, sobre os quais tem pontes. As casas são em grande parte de adobe, a matriz de taipa, e dedicada a Nossa Senhora da Conceição. O povo, que o habita, cria gado vacum, e cultiva mandioca, milho, arroz, e algodão, com variedade de frutas".

Existem outras referências importantes, de ilustres historiadores, de autores nacionais e estrangeiros, mas que se divergem das referidas datas, situando-as, entretanto, numa mesma quadra histórica em que se constituíam e se desenvolviam os primeiros núcleos habitacionais civilizados da província mineira.

Em 1711 foram criadas pelo governador ANTÔNIO DE ALBUQUERQUE COELHO DE CARVALHO as três primeiras vilas de Minas Gerais: Ribeirão do Carmo, hoje Mariana, que teve primeiramente o nome de seu fundador (Vila de Albuquerque); Vila Rica, hoje Ouro Preto, e Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará, hoje apenas Sabará.

Estas povoações, que surgiram sob os auspícios do ouro, deram origem a todas as demais da província e do Estado que dela resultou, as quais se foram emancipando, em um curto espaço de tempo, devido à grande influência das ricas jazidas que sucessivamente eram descobertas e que passavam a ser exploradas, com isto, exigindo-se rigorosa organização administrativa, religiosa, fiscal e policial em cada novo núcleo que se ia formando, sendo que, apenas em duas décadas (1711-1730), foram instaladas as primeiras vilas, em número de nove (9), sendo a de Minas Novas a nona e última delas, e somente 60 anos depois (a partir de 1789) é que se verificaram novas instalações, isto porque, neste lapso de tempo, o ouro simplesmente deixou de se aflorar, quando todas as antigas vilas já entravam na decadência, situação essa agravada pelo arrocho fiscal e pela derrama acontecida no período da Inconfidência Mineira, o que determinou novos desdobramentos e uma nova fase histórica.

São estas as 14 vilas pioneiras que foram instaladas na PROVÍNCIA DAS MINAS GERAIS no decorrer do século XVIII:
1
1711
VILA DO RIBEIRÃO DO CARMO
MARIANA
2
1711
VILA RICA
OURO PRETO
3
1711
VILA REAL DE SABARÁ
SABARÁ
4
1713
VILA DE SÃO JOÃO DEL-REI
SÃO JOÃO DEL REI
5
1714
VILA DA RAINHA
CAETÉ
6
1714
VILA DO PRÍNCIPE
SÊRRO
7
1715
VILA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE
PITANGUI
8
1718
VILA DE SÃO JOSÉ DEL REI
TIRADENTES
9
1730
VILA DAS MINAS NOVAS 
MINAS NOVAS
10
1789
VILA DE SÃO BENTO DO TAMANDUÁ
ITAPECERICA
11
1790
VILA DE QUELUZ
CONSELHEIRO LAFAIETE
12
1791
VILA DE BARBACENA
BARBACENA
13
1798
VILA DE PARACATU DO PRÍNCIPE
PARACATU
14
1798
VILA DE CAMPANHA DA PRINCESA DA BEIRA
CAMPANHA



Vê-se, portanto, que Minas Novas (Fanado) é a 9a vila que surgiu na Capitania de Minas Gerais.