terça-feira, 30 de novembro de 2010

LIVRO DO LALAU FANADEIRO


Geraldo Magela Mota Coelho


"A leitura torna o homem completo, a conversação torna-o ágil,
e o escrever dá-lhe precisão."

(Sir Francis Bacon, filósofo britânico)


 VILA DO FANADO


A Cidade de
 Minas Novas
















-Edição do Autor-
 Março de 2006




A GUISA DE PREFÁCIO




Estava há algum tempo juntando uns escritos meus, que se encontravam espalhados como rascunhos pelas gavetas e em arquivos magnético para, após criteriosa avaliação, decidir se teriam eles algum valor e se seriam merecedores de uma publicação, mesmo que fossem lor e se seriam no formato de simples opúsculo, com o intuito de atender à insistência com que alguns amigos têm-me instado a fazê-lo o que, enfim, resultou no que agora ouso levar ao prelo.

Submeti aqueles textos, reduzindo-os em cópias de disquetes, à crítica de algumas pessoas de meu círculo familiar e estas me convenceram de que nada teria a perder levando-os ao público, mas confesso que, se até então os mantinha guardados, era por julgá-los medíocres e aos quais jamais dei qualquer importância literária, tendo-os conservado apenas em virtude do velho hábito que tenho de colecionar inutilidades.s quais sz

Trata-se de um apanhado das memórias que tenho registrado, desde os meus tempos de menino, lá em Minas Novas, e também de anotações que passei a fazer sobre algumas informações obtidas junto de pessoas mais idosas, com as quais convivi, tanto na minha terra natal como, a partir de uma determinada época, nas diversas localidades por onde andei durante os 32 anos de serviço no meu tempo de bancário, sempre atuante na linha de frente do atendimento direto ao público em geral, principalmente ao funcionalismo, aos aposentados e aos pequenos produtores rurais de mais de 30 municípios localizados nos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri.

Não tenho a mínima pretensão de esperar que você, caro leitor, ao honrar-me com sua paciência, tenha os meus escritos como fonte exclusiva das informações que você por acaso demanda, mas se assim for de seu agrado, e se estas memórias lhe servirem para alguma finalidade, dar-me-ei por satisfeito, pois já terei alcançado, em muito, o meu objetivo.

Estarei muito grato pela honra de sua leitura e confesso que ficarei até curioso para saber de sua reação, pois sei como se torna enfadonho um texto se nele não houver conteúdo que seja ao mesmo tempo prazeroso e útil, como desejo que seja este, mas se lhe ocorrer o contrário gostaria de merecer, ainda assim, sua indulgência ao julgar-me, considerando que essa empreitada é tentativa dificultosa de quem não dispõe do devido preparo intelectual e cuja visão sobre os fatos que descreve não é para que se entenda o que lhe vai n'alma, mas para compreender, isto sim, que o que lhe move é tão-somente o desejo de deixarem registrados os fatos, que são do seu conhecimento, sejam eles importantes ou corriqueiros do dia a dia, e narrar, de forma simples, o cotidiano das pessoas comuns com as quais conviveu, a respeito das personagens e das situações através das quais vão se revelando informações que a uns podem não ser importantes, mas, que para outros, poderão ter algum valor.

Tenho como certo o seu direito de interromper a leitura quando melhor lhe prover, o que em parte seria lamentável sob o ponto de vista do meu desiderato, mas, confiante no seu bom entendimento, ousaria ainda pedir-lhe o obséquio, também, de não deixar que o tempo apague essas lembranças, dignando-se de permitir que essas inofensivas folhas circulem entre amigos e outros leitores. para que muitos tenham acesso ao conteúdo desses despretensiosos registros.

A empreitada não resultou para mim muito fácil, e ai reside meu empenho em preservar o que dela resultou, pois foi no esforço em produzi-la que compreendi o porquê do ditado antigo que nos lembra que não se deve entregar a farinha por qualquer preço e que, sem querer reinventar a roda, convenceu-me de que, de fato, se os obstáculos existem são mesmo para serem superados.

Minha intenção sempre foi a de contar a minha estória, a história de minha família, os casos que guardei de minha infância, sobre os costumes, acerca do folclore, das tradições e das pessoas de meu relacionamento, a de relatar os "causos" que conheço, sobre as pessoas de minha época, para que, todos eles, de certa forma, venham servir de informações, quem sabe úteis para as novas gerações.

São memórias que nos remetem ao quotidiano de antigos moradores da cidade e da roça, entremeadas da crônica simples onde, de alguma forma, arrisco delinear os perfis dos personagens que habitam o meu universo de carinho e de saudades.

Nunca pretendi realizar uma obra literária e minha autocrítica me permite considerar, com humildade, que meus conhecimentos são bastante limitados, no que se refere à arte de escrever, mas o que proponho é apenas registrar, sem retoques, com bastante fidelidade, tudo aquilo que conservo ainda muito claro em minha memória e, nesse particular, estou bastante consciente dos riscos a que me exponho.

Espero não criar embaraços ou saia-justa, e nem mesmo desejo submeter quem quer que seja a constrangimentos, pois não me passa pela cachola a mínima intenção de prejudicar ou ridicularizar as personagens que procurarei enfocar nesta novela, onde não há, também, a menor preocupação em citar claramente os nomes de pessoas ou de associá-los aos fatos, pois desta forma preserva-se a realidade e a autenticidade que proponho.

As passagens evocadas que procurarei descrever neste meu humilde e singelo trabalho são todas verídicas, o que poderá ser conferido através da averiguação, junto de muitas das próprias personagens que sobrevivem, e do testemunho daqueles moradores de nossa cidade, mais idosos que eu, os quais, provavelmente, haverão de se lembrar, muito bem, de tudo a que me refiro.

Não haverei de cometer exageros, pois o que desejo é retratar tudo aquilo que vi, senti e participei, como coadjuvante da crônica dessa nossa cidade que tanto amamos e cujo povo tanto o queremos bem.

Sei que, por parte de alguns, poderei ser interpretado de forma diferente daquela a que me proponho, mas espero que prevaleça o entendimento do assunto focalizado, estritamente dentro do seu contexto, considerando-se, naturalmente, aquele momento histórico segundo as condições em que viveu cada personagem, pois, para mim, o que resulta de mais importante, continua sendo a oportunidade de informar e de manter sempre renovado o brilho de nosso folclore, a pureza e a sabedoria de nossa cultura popular, o esforço e a luta de nossa resistência política aos desmandos e às injustiças que, durante todo esse tempo, vem infelicitando nosso povo e, por outro ângulo, move-me o desejo de ir contribuindo com a formação critica de nossos jovens e a eles possibilitando o acesso às informações cujos registros não foram ainda motivo de preocupação por parte de nossos historiadores. É lógico que esta lacuna jamais seria de todo preenchida, pois muitos dados já foram perdidos no tempo e no espaço, mas poderá ser esta uma tentativa de provocarem-se polêmicas e discussões, das quais brotarão luzes, revelações e fatos novos que serão muito interessantes para o alcance desse objetivo, afinal, o tempo é uma roda que não pára de girar, levando a reboque de suas engrenagens todas as fantasias e realidades, todas as nossas alegrias e as nossas tristezas, renovando os cenários e trazendo-nos surpresas e decepções, mas também reservando-nos o bálsamo da esperança e do livre arbítrio que nos permite fazer da vida algo de belo e de valioso, apesar de sabermos que é a nossa existência que é extremamente complicada, traiçoeira, sinuosa e breve.

E é justamente diante dessa realidade que, infelizmente, deparo-me com a triste constatação de que não é a vida que é mais dinâmica, e sim a história, pois esta é que segue, indefinidamente e sempre contínua, e vai para frente, avançando e revelando, ao tempo e a todos, tudo o que vamos deixando para trás, seja como o exemplo de nosso trabalho, os frutos de nosso engenho, de nossa arte, a tudo transformando apenas como heranças...

De qualquer forma, porém, pelo menos até que Deus decida até quando, a nossa curta vida continua. Por isto, vamos cuidar de aproveitá-la, da melhor forma possível, tirando de cada momento os melhores proveitos, sempre fitando a Luz do Infinito e acreditando fielmente que serão os nossos atos terrenos os créditos com os quais haveremos de nos valermos, perante o julgamento do Criador.

O autor.

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