terça-feira, 30 de novembro de 2010

MINAS NOVAS, O BOM SUCESSO DO FANADO - BERÇO DO JEQUITINHONHA


Edifício "Sobradão do Fanado", construido na primeira década de 1.800 para sediar o Governo da Província do Jequitinhonha. É hoje considerado um símbolo da arquitetura colonial, o primeiro "arranha-céu" construido no Brasil, ainda preservado com os seus quatro andares sustentados por esteios de aroeira, amarrados com correias de couro-cru, vigas e barrotes de brauna lavrada, soalhos de bálsamo, além de quase uma centena de portas e janelas de sucupira e bancos de jacarandá.


Depois de inviabilizada a Província do Jequitinhonha, em virtude da "Abdicação da Coroa" pelo Imperador Pedro I, tendo os Regentes que o sucederam determinado o cancelamento desse projeto, bem como o da instalação da Diocese do Fanado, a cidade de Minas Novas, que era considerada uma das principais entre as de porte médio, em todo o Brasil, entrou em franco declínio. O Sobradão, desde aquela época, sucessivamente abrigou cartórios e gabinetes do Tribunal de Juri, sede de clube social, salas de aula da antiga Escola Normal e, mais recentemente, está indefinidamente preparado para ser a sede do Museu Regional do Artesanato e da Arte Sacra, conforme estudos e projetos elaborados pela historiadora e curadora de artes LÉLIA COELHO FROTA.



Ao homem civilizado é necessário o conhecimento de sua origem para saber bem administrar o presente e, com sabedoria e determinação, construir e garantir o seu futuro. Para tanto, é necessário que se registre com fidelidade a história dos povos, cujos dados servirão para, sendo comparados, balizar e orientar as atividades, perpetuar o conhecimento, garantir a cultura, o progresso e o desenvolvimento.

Agência do Banco do Brasil S.A. - Minas Novas (MG), que foi construida (1979)- preservando-se as características originais do sobrado colonial que foi demolido, e que era a antiga Casa Paroquial do Cônego Jose Barreiros da Cunha Jobarcum..

Solar de Dona Auta, hoje pertencente aos herdeiros do fazendeiro João de Castro e que no tempo da Vila do Fanado abrigava a "Casa dos Contos" e residência do Intendente João de Barros (construtor e proprietário do "Sobradão"). Posteriormente foi adquirida pelo Cônego José Pacífico Peregrino e Silva, para servir de "palácio episcopal" da Diocese de São Pedro do Fanado que se inviabilizou em virtude de divergências políticas que, inclusive, determinou a demolição criminosa da belíssima Igreja da Matriz (antes destinada a ser a Sé do Bispado) da qual, até bem pouco tempo havia vestígios no Largo da Caridade, local onde foi construida a atual Rodoviária de Minas Novas. 


Antiga POUSADA DO LARGO DAS CAVALHADAS, propriedade que foi confiscada do inconfidente Tenente-Coronel DOMINGOS MOTA DE ABREU VIEIRA, compadre e amigo de TIRADENTES e que a este ali o hospedara por diversas vezes em suas passagens pela Vila do Fanado quando ainda o "proto-martir da Liberdade" era um aventureiro misto de tropeiro, ourives, mascate, sangrador e dentista.

O Juiz Municipal Francisco Duarte Coelho Badaró, depois de nomeado para a Comarca no final do século 19, requisitou este imóvel para alí fixar redidência - ao se casar com a Dona Sinhazinha, filha do Coronel ZEBENTÃO, o famoso "Ferrabrás" - e nessa casa nasceram-lhes os filhos Francisco Badaró Junior, Benedito Nogueira Badaró, Laura Badaró, José de Nápolis Badaró e Corina Nogueira Badaró, estando o imóvel, atualmente, em poder dos diversos herdeiros do antigo "Morubixaba do Fanado", entre eles o recém falecido Murilo Badaró (ex-senador biônico) que ali instalou e fez funcionar por muitos anos a politiqueira e polêmica "Rádio Bom Sucesso".

Tramita pela Câmara Municipal um projeto no sentido de seu resgate para ser destinado ao Museu do Fanado que contemplará, inclusive, biblioteca, teatro, oficinas de arte e ofícios e o Instituto de Pesquisas Históricas.

Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso da Divina Conceição que, por ter pertencido à Ordem Terceira de São Francisco é hoje dedicada a São Francisco Xavier, alí entronizado em belíssimo nicho, dentre outras peças remanescentes da antiga Matriz de São Pedro (demolida no início do século 20). Consta da tradição oral que esse templo era ornado com duas altíssimas torres (que aparecem em fotos antigas) as quais foram arrancadas violentamente, durante uma tempestade de ventos e raios, quando em seus porões estava sendo depositado o caixão fúnebre em que fora colocado um boneco de piteira no lugar do falecido Coronel Zebentão, cujos despojos teria sido resgatado, durante saqule lúgubre evento, por uma horda malígna. Como esse morubixaba era ateu e grande perseguidor dos índios e dos padres, era ele considerado excomungado - também em razão de seu empenho pela demolição da Igreja de São Pedro do Fanado - o que teria ensejado o merecido castigo, brilhantemente descrito nas memórias do escritor "João Grilo da Beira do Fanado".

 Altar-mor da Igreja de São Francisco Xavier, hoje sob a guarda da IRMANDADE DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO DOS HOMENS BRANCOS DE MINAS NOVAS, responsável pelas celebrações da Semana Santa, da Festa do Divino e das procissões de São Pedro, Corpus Cristi e Sagrados Corações.

 Altar do Sagrado Coração de Jesus
 Altar de Nossa Senhora da Divina Conceição de Maria -
Talhado a canivete em uma peça de jacarandá,
natural e sem douramento



PROCISSÃO DOS PASSOS DE NOSSO SENHOR, na hora do ENCONTRO com a imagem de sua mãe, NOSSA SENHORA DAS DORES, na celebração da Semana Santa, que em Minas Novas conserva toda a beleza da tradição deixada pelos padres pioneiros comandados pelo Cônego Pacífico Peregrino e Silva que legou à paróquia sua herança trazida da Espanha. 

Igreja de Nossa Senhora do Amparo, da Irmandade dos Homens Pardos da Vila do Fanado de Minas Novas em cujo interior existe um altar que uma joia barroca em pleno sertão jequitinhonhês, conforme vê adiante:

 Altar com colunas e retábulos dourados e conjunto de imagens da devoção atribuida à tradição dos colonizadores de origem judaica, tais como Santa Luzia, Santa Bárbara, São Miguel Arcanjo, São Bento, São Sebastião e Santa Edwirgens.

Os homens pardos, segundo reza a tradição, eram os filhos bastardos daqueles ricos comerciantes e arrematadores, não podendo frequentar as outras duas congregações religiosas que havia na Vila do Fanado, como as Irmandades do Rosário e do Santíssimo Sacramento que tinham seus templos próprios.


Igreja de Nossa Senhora do Rosário, da Imperial Irmandade dos Homens Pretos de Minas Novas - construída pelos escravos alforreados no início do século 19 e na qual, ainda hoje, depois de 200 anos se celebra, ininterruptamente a FESTA DE JUNHO com seus "reinados", "congados", "ternos de reis", "candongas", "candombi", "lavações", "mesas", "tamborzeiros" e "mangangás". 

Garbosa e Valente Guarda Imperial da Irmandade dos Homens Pretos, garantido a história,  o patrimônio e a grandiosidade dessa bi-centenária agremiação - ícone das melhores tradições fanadeiras.
Lindíssimo conjunto barroco de talhas, no altar-mor da Igreja do Rosário, que infelizmente encontra-se desfigurado pela aplicação irresponsável de camadas de tinta a óleo sobre suas pinturas originais.

Medalhão artístico, do teto da nave principal, atualmente danificado por infiltrações e ataques de cupins, carecendo pois de urgentes interferências no sentido de sua restauração.

Vista norturna da Igreja do Rosário, em um dia de missa em seu interior.

 

Igreja de São Gonçado do Amarante, padroeiro da Bandeira de Sebastião Leme do Prado, primeira edificação do antigo Arraial das Lavras Novas do Fanado e na qual, além de característico conjunto sacro daquela época, existe um acervo de "ex-votos" e documentos que remontam ao período áureo da mineração.







No meio do casario colonial e das belíssimas igrejas tricentenárias pontuam também edificações modernas como o GRANDE HOTEL (amplo, com piscinas e apartamentos luxuosos) e casas residenciais em conflito com o modelo histórico, cujos proprietários não se convenceram da necessidade de preservar, conservar e enfatizar a linha arquitetônica original, inclusive como maneira inteligente de garantir o viés econômico da atividade turística que, de qualquer forma, é a principal e mais viável vocação do lugar, tendo-se em vista o seu patrimônio antigo, a beleza de seus sítios naturais (como a Barragem das Almas), as tradições folclóricas, festeiras e culinárias, além da HISTÓRIA e da rica produção artesanal que garante o sustento de centena de artistas locais.

Um povo sem memória seria assim como um corpo acéfalo, alheio e desorientado, sem rumo e sem perspectivas, pois não seria desnecessário lembrar-se de que, quanto maior for o conhecimento sobre o passado, melhor será o que poderemos aproveitar daquilo que tenha resultado de positivo para que possamos prevenir contra as ameaças, as dificuldades, as maldades, as armadilhas, evitarem-se os fracassos, precaver-se frente aos desafios que se renovam, evitando-se a repetição dos erros, possibilitando-nos redimensionar e potencializar nossos planos com eficiência e segurança, colocando a ação humana como parceira, e não como simples testemunha da construção universal.

Igrejinha de São José de Botas, curiosa construção colonial em formato octogonal, na mesma linha da Capela dos Templários de Nice, que existia na França, que foi edificada para ser a capela particular do Cônego Pacífico Peregrino. Além das belíssimas imagens vindas de Portugal, tem um sino fundido em rica liga metálica com inscrições com datas bem anteriores à da fundação da cidade. É bastante curioso o conjunto pictórico, representando passagens bíblicas,  pinturas ainda bem conservadas, cuja autoria já foi atribuida ao mestre Ataíde, fato que não mereceu - ainda - pesquisas mais detalhadas.




Fuga da Sagrada Família para o Egito

Encontro da Virgem Maria com sua prima Santa Isabel


Sobrado de Dário Magalhães, atualmente em ruinas depois que foi desapropriado pelo ex-prefeito Murilo Badaró, onde fucionava antigamente a administração do COLÉGIO NORMAL DE MINAS NOVAS. Existe um projeto da Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais de resgatá-lo e reformá-lo com as adaptações necessárias com o objetivo de alí funcionar o MUSEU DE PERCURSOS DA ESTRADA REAL.

Nesta foto, no prolongamento da Rua São José, vê-se a
POUSADA TUTÚ, um sobrado que, de forma cuidadosa e exemplar, observando-se a linha arquitetônica ideal daquele logradouro, foi construido pela sua proprietária (uma ex-servente escolar que, demonstrando sua sensibilidade cívica, artística e até mesmo de oportunidade empresarial) deveria ser seguida nessa louvável atitude, tanto pelos políticos e administradores públicos, mas também pelos demais comerciantes e empresários da cidade que tudo têm feito no sentido de descaracterizar o conjunto histórico da cidade.


A seguir apresento uma resenha de algumas das publicações mais importantes, de autoria de minasnovenses ilustres ou obras que contenham referências (de alguma natureza) sobre a nossa história, nossa economia e nossas potencialidades fanadeiras, das quais deveria haver vários exemplares nas bibliotecas do município de Minas Novas, com o objetivo de se oferecer melhor acesso aos estudantes e  pesquisadores em geral.

























Neste sentido, unicamente com o intuito de contribuir para o ensino da História aos alunos das escolas localizadas nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, foi que resolvi elaborar o presente estudo, sem qualquer intenção de eliminar ou substituir a necessidade do acesso às grandes obras - na sua essência, amplitude e beleza - concebidas que foram pelos ilustres autores que aqui serão citados, aos quais registrarei os respectivos créditos, pois muitos deles viveram alguns dos fatos e alguns outros tiveram o privilégio da informação na fonte, consultando diretamente os documentos e os registros originais, o que lhes confere, portanto, todo o mérito, como historiadores, que de fato o são, e a mim competindo tão-somente desfrutar do agradável e prazeroso trabalho da pesquisa e em dar-lhes a merecida e tão necessária divulgação.  


De qualquer forma, será sempre benéfico aos alunos, e ao público em geral, que as administrações públicas se convençam do dever de dotar as nossas bibliotecas municipais de um bom acervo, principalmente dos livros que retratam a realidade e a história local, como os mencionados e muitos outros, para a eles recorrerem-se com assiduidade, aqueles que querem e que precisam se informar sobre o seu próprio passado, pois, infelizmente, estão essas obras muito pouco valorizadas na composição dos planos didáticos, hoje elaborados pelos profissionais do ensino moderno, que se esforçam apenas pelo treinamento de candidatos ao vestibular, com dicas e macetes, sem se cuidarem acerca de um melhor aprofundamento sobre os conteúdos integrais e sobre o conhecimento geral daquela matéria, dispensando, equivocadamente, a essência do saber, a verdadeira cultura, deixando-se entusiasmar com o brilho das novas tecnologias, muitas delas que são massificantes e que condicionam o acadêmico, como se esse devesse permanecer, eternamente, como um autômato, um leitor funcional, obrigando-o a orbitar-se na sua inteira dependência, atendo-se a uma formatação (não formação) limitada e bem definida, dentro de uma faixa exclusiva que exige, tão-somente, um comportamento disciplinar, em detrimento da capacidade de raciocínio, de comparação, de dedução lógica e de correta expressão, tendo como técnica o círculo vicioso e repetitivo das cartilhas, que induz à “decoreba”, onde têm sido considerados, aqueles assuntos relacionados com o passado, como temas românticos e pouco relevantes e tendo-os de pouco merecimento, segundo a miopia desses tecnocratas, quando se sabe, cientificamente, que de uma melhor abordagem, em salas de aula, se assim entendessem os educadores, esta preocupação resultaria uma sólida e muito melhor formação cidadã, moral, ética, intelectual, cívica e cultural que - de nossa humilde, mas não utópica parte - tanto almejamos para os nossos jovens estudantes que merecem alcançar o sucesso em qualquer das carreiras que vierem a abraçar.



PRÉDIO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE MINAS NOVAS

Geraldo Magela Mota Coelho
Belo Horizonte (MG) , 29-06-2010
(Dia dedicado a São Pedro Apóstolo, padroeiro da Vila do Fanado)


1. A Vila do Bom Sucesso do Fanado

Segundo o escritor Joaquim Ribeiro Costa, em seu livro "Toponímia de Minas Gerais" (Com Estudos Históricos da Divisão Territorial Administrativa) - Imprensa Oficial do Estado - Belo Horizonte - 1970:

“MINAS NOVAS - Paróquia de Nossa Senhora do Bom Sucesso das Minas do Fanado, por alvará de 1728”. Segundo Diogo de Vasconcelos, o governo de Portugal, a 21-V-1729, mandou que se criasse a vila de Nossa Senhora do Bom Sucesso das Minas Novas do Arassuaí, o que se deu a 2-X-1730; e que as mesmas Minas ficassem sujeitas ao governo da Capitania da Bahia. Criada a comarca de Jacobina, naquela Capitania, foi-lhe incorporado o termo de Minas Novas. Por carta de maio de 1747 foi a vila de Minas Novas reposta na comarca do Serro, menos quanto à jurisdição militar. Finalmente, a 13-V-1857, foi mandado incorporar-se Minas Novas integralmente à comarca de Serro e ao governo das Minas Gerais. Já havia, desde época anterior a 1745, a paróquia de Santa Cruz da Chapada (atual Chapada do Norte). Por lei numero 32 de 14-III-1836 é o distrito de Olhos d'Água incorporado ao município de Montes Claros. Por lei número 59 de  06-III-1857 foi desmembrado do município de Rio Pardo para o de Minas Novas o distrito de São Miguel, da 7a. Divisão (atual Jequitinhonha). Perde em 1839 a paróquia de Brejo das Almas (atual Francisco Sá), incorporada ao município de Montes Claros. Criados em 1840 a paróquia de São João Batista e o distrito de São Sebastião do Salto Grande e Nossa Senhora da Piedade (atual Turmalina). Adquire em 1850 o distrito de Santo Antônio do Itinga e as paróquias de Calhau (atual Araçuai) e Chapada (atual Chapada do Norte). Criados em 1857 o distrito de Senhor Bom Jesus da Barra do Pontal (atual Itira) e a paróquia de Filadélfia (atual Teófilo Otoni). Perde no mesmo ano o território que passou a constituir o município de Araçuai. Cria em 1858 as paróquias de Capelinha (ex Nossa Senhora das Graças da Capelinha) e Sucuriú (atual Francisco Badaró). Perde em 1862 a paróquia de Araçuaí (ex Calhau). Criados em 1877 os distritos de São José da Água Boa, Santa Clara (atual Nanuque), Santa Rita da Malacacheta, Veredinha e Urucu (atual município de Carlos Chagas). Restaura, no mesmo ano a paróquia de Água Limpa (atual Berilo), que havia sido criada anteriormente e suprimida em 1868. Perde em 1878 as paróquias de Teófilo Otoni, Santa Clara (Nanuque), Malacacheta e Urucu (Carlos Chagas). Elevado a paróquia em 1880 distrito de Santo Antônio de Setubinha; perde no mesmo ano a paróquia de Setubinha e o distrito de Água Boa. Readquire este último distrito em 1881, elevado a paróquia em 1882. Criado em 1882 o distrito de Caiçara, mediante transferência para ali da sede do distrito de Peixe Cru, que havia sido criado em 1880. Perde em 1911 os distritos de Jequitinhonha, Capelinha, Itira, Água Boa e Salto Grande (atual Salto da Divisa). Perde em 1948 os distritos de Caçaratiba, Turmalina e Veredinha. Criado em 1953 o distrito de Leme do Prado. Perde em 1962 os distritos de Berilo, Chapada do Norte e Francisco Badaró."

Portanto, existem divergências quanto à data real de fundação do município de Minas Novas, sendo oficial a de 02 de outubro de 1730, embora exista, também, referência de que foi datada de 21 de maio de 1729 a Ordem do Governo de Portugal para a emancipação, conforme informa o IGA (Instituto de Geociências Aplicadas)in "As Denominações Urbanas de Minas Gerais - Cidades e Vilas mineiras- com estudo toponímico e da categoria administrativa"   -   2a. edição revista e ampliada - abril/ 1997 - publicada pela ALEMG.

Já o ilustre historiador Padre Manoel Aires de Casal, em "Corografia Brazilica - Relação Histórico-Geográfica do Reino do Brazil", composta e dedicada a Sua Majestade Fidelíssima por hum presbítero secular do Gram Priorado do Crato" que foi impressa no Rio de Janeiro, em 1817, com Licença e Privilégio Real, na "Impressão Régia", registra que a Vila do Fanado foi criada no ano de 1715:

"A Vila de Bom Sucesso, vulgarmente mais conhecida pelo nome de Fanado, criada no ano de 1715 é medíocre, e bem situada num terreno levantado, e lavado de ares salutíferos entre as ribeiras, que lhe deram os nomes, e unindo-se entram no Rio Arassuaí, que passa 6 milhas arredado pelo norte, ornada com uma igreja matriz dedicada ao príncipe dos Apóstolos, as capelas do Senhor do Bonfim, de Nossa Senhora do Amparo dos pardos, de Nossa Senhora do Rosário dos pretos, de Santa Ana, de São José, de São Gonçalo, e uma ordem terceira de São Francisco. Tem Juiz de Fora, e Professor régio de Latim. Nenhuma casa é de pedra. Seus habitantes são mineiros, criadores de gado vacum, e lavradores de víveres, algodão e canas-de-açúcar; alguns procuram pedras preciosas: os negociantes são os mais abastados e independentes. Fica 63 léguas ao nordeste de Mariana, 60 ao mesmo rumo de Sabará, 36 ao nor-nordeste de Vila do Príncipe, 135 ao norte do Rio de Janeiro.

      No seu extenso termo há várias ermidas: a de Nossa Senhora da Piedade, a das Mercês, a da Penha, a de São João, a da Prata, a das Barreiras, cujo número deve multiplicar-se para leste e sul até o Rio Doce, logo que se abram e freqüentem as estradas projetadas para os melhores portos de Porto Seguro. A maior parte delas serão paróquias antes de muitos lustros. A fertilidade do território, e facilidade de transportar produções aos portos, devem atrair numerosos colonos a este distrito, sem dúvida o melhor da província depois de subjugados os aimorés.

      Três léguas, ao norte do Fanado está o Arraial e Freguesia de Santa Cruz da Chapada, junto do Rio Capivari: Seus habitantes, que apenas recolhem alguns víveres, ocupam-se em minerações.

      Quatro léguas ao nordeste do precedente, e 7 do Fanado, está o considerável Arraial e Paróquia de Água Suja, junto à confluência da ribeira do seu nome com o Arassuaí, ornado com uma igreja matriz dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Seus habitantes cultivam milho, legumes, algodão, tabaco, e tiram ouro. No seu distrito há as freguesias de São Domingos, e a de Nossa Senhora da Conceição, junto ao Rio Sucuriu, cujos paroquianos cultivam as mesmas produções, e ajuntam ouro e pedraria.

      Perto de 30 léguas ao norte do Fanado está o considerável Arraial e Freguesia do Rio Pardo, sobre a confluência do rio que lhe dá o nome, com o Preto, sobre os quais tem pontes. As casas são em grande parte de adobe, a matriz de taipa, e dedicada a Nossa Senhora da Conceição. O povo, que o habita, cria gado vacum, e cultiva mandioca, milho, arroz, e algodão, com variedade de frutas".

Existem outras referências importantes, de ilustres historiadores, de autores nacionais e estrangeiros, mas que se divergem das referidas datas, situando-as, entretanto, numa mesma quadra histórica em que se constituíam e se desenvolviam os primeiros núcleos habitacionais civilizados da província mineira.

Em 1711 foram criadas pelo governador ANTÔNIO DE ALBUQUERQUE COELHO DE CARVALHO as três primeiras vilas de Minas Gerais: Ribeirão do Carmo, hoje Mariana, que teve primeiramente o nome de seu fundador (Vila de Albuquerque); Vila Rica, hoje Ouro Preto, e Vila Real de Nossa Senhora da Conceição de Sabará, hoje apenas Sabará.

Estas povoações, que surgiram sob os auspícios do ouro, deram origem a todas as demais da província e do Estado que dela resultou, as quais se foram emancipando, em um curto espaço de tempo, devido à grande influência das ricas jazidas que sucessivamente eram descobertas e que passavam a ser exploradas, com isto, exigindo-se rigorosa organização administrativa, religiosa, fiscal e policial em cada novo núcleo que se ia formando, sendo que, apenas em duas décadas (1711-1730), foram instaladas as primeiras vilas, em número de nove (9), sendo a de Minas Novas a nona e última delas, e somente 60 anos depois (a partir de 1789) é que se verificaram novas instalações, isto porque, neste lapso de tempo, o ouro simplesmente deixou de se aflorar, quando todas as antigas vilas já entravam na decadência, situação essa agravada pelo arrocho fiscal e pela derrama acontecida no período da Inconfidência Mineira, o que determinou novos desdobramentos e uma nova fase histórica.

São estas as 14 vilas pioneiras que foram instaladas na PROVÍNCIA DAS MINAS GERAIS no decorrer do século XVIII:
1
1711
VILA DO RIBEIRÃO DO CARMO
MARIANA
2
1711
VILA RICA
OURO PRETO
3
1711
VILA REAL DE SABARÁ
SABARÁ
4
1713
VILA DE SÃO JOÃO DEL-REI
SÃO JOÃO DEL REI
5
1714
VILA DA RAINHA
CAETÉ
6
1714
VILA DO PRÍNCIPE
SÊRRO
7
1715
VILA DE NOSSA SENHORA DA PIEDADE
PITANGUI
8
1718
VILA DE SÃO JOSÉ DEL REI
TIRADENTES
9
1730
VILA DAS MINAS NOVAS 
MINAS NOVAS
10
1789
VILA DE SÃO BENTO DO TAMANDUÁ
ITAPECERICA
11
1790
VILA DE QUELUZ
CONSELHEIRO LAFAIETE
12
1791
VILA DE BARBACENA
BARBACENA
13
1798
VILA DE PARACATU DO PRÍNCIPE
PARACATU
14
1798
VILA DE CAMPANHA DA PRINCESA DA BEIRA
CAMPANHA



Vê-se, portanto, que Minas Novas (Fanado) é a 9a vila que surgiu na Capitania de Minas Gerais.




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